quarta-feira, 4 de junho de 2025

O BRASIL NAS PÁGINA POLICIAIS: ESTADO OMISSO, ELITE PRIVILEGIADA.


Quando o absurdo vira manchete — e ninguém se espanta mais

Eu sou jornalista há quase três décadas. Já vi de tudo, já cobri de tudo. Mas confesso que há momentos em que até minha indignação se cansa. O noticiário mais recente — sobre o roubo bilionário no INSS e os penduricalhos indecentes aprovados para magistrados — é mais do mesmo. É como se o Brasil tivesse desistido de melhorar. O que assusta não é mais o escândalo, é a normalidade com que o escândalo é tratado.

INSS saqueado: o Brasil assaltando os brasileiros

O que está acontecendo na Previdência é criminoso em todos os sentidos. Não só pelo rombo bilionário provocado por fraudes descaradas, mas pela omissão do Estado, que fecha os olhos enquanto o dinheiro de quem contribuiu a vida toda some no ralo da corrupção.

E o povo? Morre na fila. Espera perícia que nunca chega. Se humilha por um benefício miserável que, muitas vezes, é negado por “falta de documentação”. O mesmo Estado que se faz de cego para o criminoso é implacável com o cidadão honesto.

Privilégios togados: legalizados, mas imorais

No meio desse caos, o Judiciário se autopremia com gratificações e “auxílios” que desafiam qualquer noção de justiça. O nome bonito é “penduricalho”. Mas vamos falar a verdade: é privilégio. Legal, sim. Moral, não.

É um tapa na cara do trabalhador brasileiro ver magistrados com salários já elevados receberem bônus por produtividade, auxílio-moradia mesmo tendo casa própria, verba de livro, auxílio-saúde — tudo com carimbo de legalidade e silêncio institucional. Não tem cabimento. E se tem, é porque o cabimento foi construído sob medida para eles.

Minha autocrítica: a imprensa também falha

Seria cômodo apontar só os culpados e lavar as mãos. Mas aqui, no Hora do Papito, a verdade vem com espelho. Eu faço parte da imprensa. E a imprensa também falha. Seletiva, domesticada, às vezes covarde. Muitas vezes, demos voz demais aos poderosos e ouvimos de menos o povo.

Faltou vigilância, sobrou manchete vazia. O jornalismo, quando não fiscaliza com independência, vira cúmplice. Não sou melhor que ninguém. Mas sou daqueles que ainda se indignam — e se recusam a calar.

O Brasil que paga é sempre o mesmo

No fim, sobra para quem não tem advogado, não tem cargo público, não tem amigo influente. É o brasileiro comum, que vive com salário mínimo, que depende do SUS, do INSS, do transporte público. Esse é o Brasil que paga a conta. E paga com a própria dignidade.

Hora de reagir

Se você acha que esse é só mais um desabafo, errou de blog. Aqui é a Hora do Papito. E a nossa hora é de reagir. Com jornalismo, com opinião, com coragem. Esse espaço nasce para isso: incomodar, provocar, denunciar — e, principalmente, não se calar diante da indecência institucionalizada.

Enquanto o Brasil continuar desfilando nas páginas policiais, eu estarei aqui, com a caneta afiada e o microfone aberto. Porque ser jornalista, para mim, ainda é ter lado: o lado de quem paga, de quem sofre e de quem não tem voz.

Fonte:  Jornalista Tiago Helcias

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