Eu sou jornalista há quase três décadas. Já vi de tudo, já cobri de tudo. Mas confesso que há momentos em que até minha indignação se cansa. O noticiário mais recente — sobre o roubo bilionário no INSS e os penduricalhos indecentes aprovados para magistrados — é mais do mesmo. É como se o Brasil tivesse desistido de melhorar. O que assusta não é mais o escândalo, é a normalidade com que o escândalo é tratado.
INSS saqueado: o Brasil assaltando os brasileiros
O que está acontecendo na Previdência é criminoso em todos os sentidos. Não só pelo rombo bilionário provocado por fraudes descaradas, mas pela omissão do Estado, que fecha os olhos enquanto o dinheiro de quem contribuiu a vida toda some no ralo da corrupção.
E o povo? Morre na fila. Espera perícia que nunca chega. Se humilha por um benefício miserável que, muitas vezes, é negado por “falta de documentação”. O mesmo Estado que se faz de cego para o criminoso é implacável com o cidadão honesto.
Privilégios togados: legalizados, mas imorais
No meio desse caos, o Judiciário se autopremia com gratificações e “auxílios” que desafiam qualquer noção de justiça. O nome bonito é “penduricalho”. Mas vamos falar a verdade: é privilégio. Legal, sim. Moral, não.
É um tapa na cara do trabalhador brasileiro ver magistrados com salários já elevados receberem bônus por produtividade, auxílio-moradia mesmo tendo casa própria, verba de livro, auxílio-saúde — tudo com carimbo de legalidade e silêncio institucional. Não tem cabimento. E se tem, é porque o cabimento foi construído sob medida para eles.
Minha autocrítica: a imprensa também falha
Seria cômodo apontar só os culpados e lavar as mãos. Mas aqui, no Hora do Papito, a verdade vem com espelho. Eu faço parte da imprensa. E a imprensa também falha. Seletiva, domesticada, às vezes covarde. Muitas vezes, demos voz demais aos poderosos e ouvimos de menos o povo.
Faltou vigilância, sobrou manchete vazia. O jornalismo, quando não fiscaliza com independência, vira cúmplice. Não sou melhor que ninguém. Mas sou daqueles que ainda se indignam — e se recusam a calar.
O Brasil que paga é sempre o mesmo
No fim, sobra para quem não tem advogado, não tem cargo público, não tem amigo influente. É o brasileiro comum, que vive com salário mínimo, que depende do SUS, do INSS, do transporte público. Esse é o Brasil que paga a conta. E paga com a própria dignidade.
Hora de reagir
Se você acha que esse é só mais um desabafo, errou de blog. Aqui é a Hora do Papito. E a nossa hora é de reagir. Com jornalismo, com opinião, com coragem. Esse espaço nasce para isso: incomodar, provocar, denunciar — e, principalmente, não se calar diante da indecência institucionalizada.
Enquanto o Brasil continuar desfilando nas páginas policiais, eu estarei aqui, com a caneta afiada e o microfone aberto. Porque ser jornalista, para mim, ainda é ter lado: o lado de quem paga, de quem sofre e de quem não tem voz.
Fonte: Jornalista Tiago Helcias
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