terça-feira, 15 de julho de 2025

RESPEITE MEU NORDESTE: QUANDO A IGNORÂNCIA GRITA E A DIGNIDADE RESPONDE!!


Na mira de Arthur do Val, Aracaju virou alvo de preconceito gratuito. Mas desta vez, o silêncio deu lugar à resposta firme — com sotaque, orgulho e história.

De Portugal, onde moro atualmente, ouvi o baque daqui. O barulho atravessou o Atlântico, bateu no meu peito de sergipano e reverberou com a fúria de quem sabe exatamente o que é ser reduzido a estereótipos. Um vídeo no YouTube, mais um do ex-deputado cassado Arthur do Val, o “Mamãe Falei”, e lá estava ele, despejando seu veneno de costume — dessa vez, contra Aracaju e seu povo. A desculpa? Uma crítica ao Forró Caju 2025. O resultado? Xenofobia descarada, com ofensas grotescas como “esse povo de merda” e “esse povo chipanzil”.

E olha, não me surpreende mais quando figuras como ele usam da “liberdade de expressão” como escudo para esconder preconceitos. O que me surpreende — ou me indigna — é a naturalidade com que esse tipo de ataque é tratado por alguns como “mera opinião”.

EU NÃO ESTOU FALANDO COMO JORNALISTA: ESTOU FALANDO COMO NORDESTINO

Sou de Aracaju. Do lado de minha mãe, cresci entre o sotaque doce do mercado central, no bairro Luzia, do cheiro de caranguejo no Mosqueiro e da cultura viva das nossas festas populares. Do lado de meu Pai, minha família vem de Alagoas e de Pernambuco — sou nordestino por todos os lados. E levo esse orgulho no sangue, no tom de voz e na forma como olho o mundo.

Como jornalista, fui moldado pelas ruas de Aracaju, pelo caloroso povo de Maceió, pelos bastidores barulhentos de São Paulo. E eu sei — sei bem — o que é ser julgado pelo sotaque, pela origem, pelo CEP de onde você veio.

Quando cheguei a São Paulo, precisei fazer fonoaudiologia para “corrigir” o sotaque — porque emissora nenhuma queria nordestino na frente da câmera soando como nordestino. E isso não foi em 1965, não. Foi na última década. Em Maceió, logo no início do meu trabalho como apresentador do Balanço Geral Alagoas, questionei publicamente o Corpo de Bombeiros sobre uma tragédia envolvendo incêndio num prédio. Nos bastidores, o comandante da ocasião me mandou um recado: “Quem é esse aí pra falar da cidade, nem da terra ele é.”

É esse tipo de mentalidade — essa arrogância provinciana disfarçada de autoridade — que reaparece quando figuras como Arthur do Val vomitam preconceito na internet e acham que está tudo certo.

CRÍTICA PODE SER ÁSPERA. PRECONCEITO, NÃO.

Veja bem, questionar o uso de dinheiro público em festas é legítimo — e eu mesmo sempre fiz isso. Fui e sou crítico de recursos mal aplicados em shows, eventos, camarotes, fogueiras de vaidade que escondem deficiências em saúde, educação, mobilidade…, etc. Já questionei isso em Aracaju, em Maceió, no Norte do país, em São Paulo. O jornalismo que faço não é decorativo.

Mas há um limite. E esse limite é o respeito às pessoas. O que Arthur fez não foi questionar o orçamento — foi humilhar uma população inteira. Foi olhar para o povo de Aracaju e dizer, com todas as letras, que somos inferiores. Como se fôssemos selvagens por nos alegrarmos com um show no São João.

Isso não é opinião. Isso é xenofobia. E é crime.

A RESPOSTA DE EMÍLIA: ENFIM, ALGUÉM DIZ O BÁSICO

A prefeita de Aracaju, Emília Corrêa, fez o que qualquer autoridade com brio faria: respondeu à altura. Disse, com clareza e firmeza, que xenofobia é crime, e que medidas legais seriam tomadas. Não se trata de proteger gestão, partido ou político — trata-se de proteger o povo.

“Pode criticar a prefeita. Mas não ofenda o povo”, disse ela. E foi direto ao ponto. Porque crítica constrói. Ofensa destrói.

É o tipo de atitude que deveria ser óbvia, mas que, no Brasil de 2025, ainda choca por ser rara.

A RÉPLICA PATÉTICA DE ARTHUR: QUANDO O “PEDIR DESCULPA” VEM COM VENENO

Claro, o rapaz não calaria. Fez outro vídeo, com aquele estilo inflamado que mistura teatro de quinta categoria com youtuber cansado, e tentou justificar o injustificável. Reclamou da prefeita, do Nordeste, da cultura, do “vitimismo”, da “esquerda”, da “lacração”. O de sempre.

Se queria discutir orçamento, que o fizesse com seriedade. O problema é que o conteúdo era ofensivo desde a raiz. O discurso dele não é sobre política pública — é sobre desumanização. É sobre ridicularizar o que é diferente. Transformar o povo nordestino em piada fácil para angariar cliques e manter o algoritmo girando.

DE PORTUGAL, AINDA VEJO O PRECONCEITO NO OLHAR DE MUITOS

Aqui em Portugal, onde resido, a história se repete — de forma mais sutil, mas não menos tóxica. Brasileiro, aqui, não fala português. Fala “brasileiro”, como já ouvi. Nosso jeito de falar é “errado”. Nosso jeito de ser, “barulhento”. O preconceito vem em sorrisos passivos-agressivos, em piadas disfarçadas de cordialidade, em olhares enviesados no balcão do banco. Somos o outro, o invasor. E não adianta diploma, currículo, bom comportamento — o preconceito não pede RG, só geografia.

Por isso essa história me dói em tantos níveis. Porque ela fala de mim, da minha gente, da minha história.

JORNALISMO LIVRE NÃO SE ABAIXA

E aqui, neste blog, sigo fazendo o que sempre fiz: jornalismo opinativo, com independência, coragem e sem bajulação. Já fui atacado por criticar Bolsonaro. Já fui atacado por criticar Lula. Já me acusaram de “petista”, “bolsominion”, “isentão”, “militante”, “fascista”. O que eu sou, na verdade, é um jornalista com história — e com espinha.

E nessa história, não cabe passar pano para preconceito, seja ele de que lado for. Quem se incomoda com isso, paciência. Talvez devesse se incomodar mais com a própria complacência.

RESPEITE ARACAJU. RESPEITE O NORDESTE. RESPEITE A GENTE.

O episódio Arthur do Val vs Aracaju não é sobre política. É sobre decência. Sobre o limite que ainda precisamos desenhar entre opinião e ofensa, entre liberdade de expressão e discurso discriminatório.

Fico feliz que a prefeitura tenha reagido. Mas mais feliz ainda de saber que o povo nordestino não precisa mais baixar a cabeça. O tempo do silêncio acabou. Agora a gente fala — com sotaque, com orgulho, e com toda a força que essa terra carrega.

E que fique o recado: quem mexe com Aracaju, Maceió…, com todo o nordeste, mexe com todos nós.

Fonte?  blog do jornalista Tiago Hélcias que é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

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