sexta-feira, 12 de agosto de 2011

DELEGADOS RECLAMAM DE ABANDONO NO INTERIOR.

Problemas com as condições das delegacias se arrastam desde 2007 (Fotos: Kássio Viana)

Falta de efetivo, prédios sucateados e inquéritos de crimes que se empilham sem resolução. Este é o resumo básico da situação da Segurança Pública no interior do Estado, uma situação desconhecida para a maioria, mas classificada por delegados e policiais civis com adjetivos que ninguém gosta de ouvir. Aliás, é necessário que se ressalve: a situação é tão grave que muitas das fontes ouvidas pelo Portal Infonet sentiram dificuldade para definir algo com os termos negativos que qualquer cidadão está acostumado a dizer.

Há alguns meses – mais precisamente em maio - uma equipe de reportagem percorreu algumas delegacias das regiões Leste e do baixo São Francisco e constatou in loco a precariedade. Até o momento, nada mudou. Mas o problema se arrasta a mais tempo do que se imagina. O presidente da Associação dos Delegados de Polícia de Sergipe (Adepol) alega que os problemas se arrastam desde 2007, quando a entidade começou a fazer as primeiras denúncias. “As condições não mudaram nada. É uma porcaria. A maioria das delegacias tem um delegado, um escrivão e mais ninguém. E só. O interior está sem condições de trabalho”, denuncia, acenando que a categoria fará novas manifestações nos próximos meses.

Viana explica que a reivindicação da classe, cujas manifestações ocorreram no primeiro semestre, não foi apenas salarial. Os delegados querem, acima de tudo, melhores condições de trabalho para garantir a segurança de que a população precisa. “Só para as atividades policiais, em uma cidade muito pequena, você precisa de, no mínimo, um delegado, um escrivão e três agentes para atividades rotineiras como intimações e investigações. Nas delegacias, hoje, há um agente, no máximo dois. A polícia militar se recusa a fazer o trabalho do policial civil, com razão, porque até hoje a situação não melhorou e se eles continuarem a ajudar, não vai haver solução nunca”, lamenta o presidente da Adepol.

Precariedade

A revolta de Kássio Viana encontra eco naqueles que vivem diariamente os problemas. Elder Sanches, delegado de Cedro de São João e Malhada dos Bois, relata que trabalha apenas com um escrivão. O prédio que abriga a delegacia, segundo ele, é sucateado e não oferece estrutura alguma para o trabalho. “Não tem como dar conta. Eu não tenho como fazer investigações sozinho porque é perigoso; é impossível”, assevera.

O perigo a que ele se refere reside na região conhecida como ‘Cruz das Donzelas’, em Malhada dos Bois, às margens da BR 101, um ponto bastante conhecido por prostituição infantil e tráfico de drogas. “A criminalidade lá é alta: são assaltos, furtos, roubos. E não dá para eu ir mesmo. Se eu for, viro notícia”, desabafa o delegado.

Sanches diz que a viatura é dividida com os policiais militares e muitas vezes as diligências têm de esperar. As consequências têm impacto direto na resolução dos crimes. “Há uma demanda atrasada desde 2007. O que dá a gente faz, seleciona os casos mais graves, que muitas vezes também não temos nem como fazer”, explica.

Mais perto da capital, em Santo Amaro das Brotas, o delegado divide as atividades com a cidade de Pirambu. De acordo com o policial militar Claudionor José da Cruz, que estava na delegacia no momento em que o Portal Infonet visitou o local, o delegado visita o município às quartas e sextas-feiras ou quando há algum flagrante. Ele reclama de ter que fazer a função de policial civil por falta de efetivo. “Nós temos que estar na rua fazendo policiamento e não ficar tomando conta do prédio e dos presos. Se houver algum crime a gente fecha a delegacia com o risco deles fugirem ou não vai”, relata. Aos fins de semana a situação fica ainda mais complicada porque os casos têm que ser trazidos para a capital. “Antes ainda tinha a plantonista em Maruim ou Itabaiana, mas agora não temos mais. São dois policiais para a cidade toda”, completa.

Claudionor diz que policiais militares realizam função que não devem

Leógenes Bispo Correia, que cobre as cidades de Aquidabã e Muribeca, relata os mesmos problemas descritos até aqui. Ele lembra, no entanto, que essa é uma atividade ilegal reconhecida por um parecer da Procuradoria Geral do estado (PGE), sob o número 4068.2005. “No serviço público a gente só pode fazer o que é permitido. A lei não permite que um delegado atue em duas delegacias, pois a nossa função é de urgência. Se houver um flagrante pela Lei Maria da Penha, em que a comunicação do crime para que o acusado seja preso deve ser em até 48h, é quase impossível solicitar as medidas protetivas”, exemplifica.

O delegado explica, ainda, que com o cerco se apertando contra os bandidos onde as investigações policiais ocorrem com maior celeridade, a tendência é que eles fujam das grandes cidades para o interior, que nas palavras dele está abandonado. “A violência é dinâmica. Se os bandidos correm para o interior a gente não tem o que fazer. Não temos policial e o delegado não pode ir sozinho”, alerta.

Concurso público

Para o presidente da Adepol, a saída é a realização de concurso público para agente e delegados. Ou a situação tende a piorar, já que Kássio Viana alerta para um número expressivo de policiais que se aposentarão neste ano e não serão repostos. “Quatro anos e nenhum sinal de concurso público. Os policiais estão cansados, desestimulados, pois não há esperança de melhora”, afirma.

Um estudo realizado pela entidade aponta que são necessários mais 36 delegados, o que deve aumentar para 180 o número total em todo o Estado, e pelo menos 1.400 vagas para os policiais civis. “Hoje, sem as aposentadorias, precisaríamos de 400 ou 500 policiais. Este número não seria, para nós, 100% da necessidade, mas é um número importante”, ressalva.

Nos próximos meses, Kássio Viana diz que os delegados vão cobrar do governo as melhorias. “Quando as coisas não são resolvidas a culpa é do delegado de polícia, mas ninguém vai ficar assumindo as responsabilidades do Estado. Não é o delegado que vai assumir as falhas por falta de policial, de viatura, falta de tudo. Se fosse para trabalharmos de acordo com a obrigação, sem o esforço extraordinário, o resultado seria catastrófico”, declara.

Dente as medidas, além de novas manifestações, o delegado Leogenes diz que muitos vão entrar com ações individuais contra o Estado baseados no parecer da PGE.

“A solução é o concurso público. Desse jeito não dá. Com o grupo que está aí, não tem condição. Se for pra manter desse jeito, o governo que assuma não ter condições. E quando os bandidos tomarem conta do Estado, não ponha a culpa na policia”, avisa Kássio Viana.

SSP

O Portal Infonet tentou por duas vezes entrevistar a delegada Viviane Pessoa, coordenadora das Delegacias do Interior da Secretaria de Segurança Pública (SSP), mas ela não compareceu. Em contato com a assessoria de comunicação da SSP, a equipe solicitou uma outra fonte para a matéria, mas até o fechamento desta matéria não recebemos resposta.

Fonte:  Infonet (Diógenes de Souza)

Nota:  Os representantes da AMESE (Associação dos Militares do Estado de Sergipe), sargentos Vieira e Edgard, quando faziam parte da ABSMSE, já tinham denunciado toda essa situação, quando visitaram todos os municípios do Estado, tirando fotos das situações encontradas das delegacias, unidades militares e presídios, fazendo um relatório minucioso que foi entregue ao comando da PMSE à época, para que fossem adotadas as providências devidas junto a Secretaria de Segurança Pública.  Aproveitamos a oportunidade para parabenizar o policial militar Claudionor pela coragem e postura de mostrar a realidade da segurança pública do nosso Estado, onde policiais militares que deveriam estar no policiamento ostensivo (nas ruas), têm que estar tomando conta de prédios e de presos nas delegacias, deixando a população desassistida.

Um comentário:

  1. Falta vontade, e coragem nas pessoas que deveriam tomar providencias relativas ao caso, mas como eles nao estao sentindo na pele, o que passa a população, dos seus gabinetes eles assistem de camarote a desgraça alheia.

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