sábado, 1 de março de 2014

QUAL CRIME NÓS COMETEMOS? (DESABAFO DE UM POLICIAL MILITAR DO DF)

Qual crime que cometemos para sermos tratados assim pelo governo?

Creio que todos os crimes que as pessoas de bem desse país deveriam cometer, os quais meus pais, pessoas pobres, mas honestas, me ensinaram desde pequeno, os crimes que também foram aprendidos na igreja, nas homilias dos vários padres que já ouvi. Os crimes que vários amigos que não se calam diante das injustiças têm me ensinado ao longo desses quarenta e nove anos de vida. Sabem qual o principal crime? Lutar incessante e incondicionalmente por meus direitos, pela defesa dos interesses daqueles que historicamente foram marginalizados pela sociedade, por conta de uma ditadura que assolou esse país e que me parece não ter deixado de existir, só mudaram os atores.

Nós Policiais Militares fomos usados pelos militares do Exército durante a Ditadura e somos usados contemporaneamente pelo sistema que alguns consideram democrático; fomos e somos até hoje marionetes nas mãos dos que estão no poder, então, começamos a despertar e refletir sobre essa situação. Quando a PM paralisa suas atividades (e olha que só passamos a executar o que era dever constitucional), todos percebem a sua imprescindibilidade, assim como são imprescindíveis os médicos os professores e todos os demais servidores que fazem esse Estado funcionar. Não se pode admitir, dada a importância desse profissional e os riscos de vida que ele corre para cumprir com a sua missão que ele não seja reconhecido pecuniariamente por isso.

Que fique bem claro e reitero de forma peremptória, que o crime que esse cidadão marginalizado denominado “Policial Militar” cometeu, não foi o de lutar por aumento salarial e sim lutar para que promessas fossem cumpridas pelo Distrito Federal, personificado na pessoa do Senhor Governador Agnelo Queiroz.

Muitos não nos conheciam e agora já nos conhecem em função do poderio das grandes redes sociais, podendo emitir um juízo de valor a nosso respeito sem se deixar influenciar pelos meios de comunicação de massa, especialmente os televisivos que prestam um desserviço social quando mostram inverdades e tentam induzir as pessoas ao erro. Como é possível conceber um país com a sexta maior economia do mundo em que crianças ainda morrem de inanição, pessoas morrem à míngua nas filas de hospitais, muitos são empurrados para a marginalidade por falta de emprego, educação, entretenimento, culturas diversas e lazer. Onde as leis não se cumprem e políticos sempre dão um "jeitinho" para justificar suas falcatruas.

Para o governo, esse cidadão marginalizado chamado “Policial Militar” tornou-se perigoso porque conseguiu fazer com que as praças, que muitos, infelizmente, ainda consideram uma subclasse ou uma categoria de analfabetos e alienados, se percebessem como cidadãos. Ora, se foi possível fazer isso com militares, que têm autoestima baixa, certamente seria possível fazer com civis que há mais de 510 anos tem os seus direitos negados, para garantir a riqueza de poucos que historicamente legislaram, administraram e julgaram em causa própria. Pessoas que conduzem outras à reflexão tornam-se perigosas para os que ocupam os espaços de poder.

A Operação Padrão/Tartaruga/Legalidade ou seja lá a denominação que for dada (fazer somente o que lhes é atribuído constitucionalmente) foi o último recurso que nos deixaram para que o nosso grito de dor fosse ouvido. Mesmo assim caçaram esse grito. O grito da dor pela perda de muitas praças que são mortos, e que ninguém faz nada, o grito de dor das mães e famílias que os enterra e o Estado as deixa órfãs, o grito de dor pelas necessidades financeiras que assolam a maioria dos policiais. Sei que esse também foi o grito de dor dos que não tem o que comer, não tem o que vestir, não tem onde morar, não tem educação ou saúde de qualidade, não tem um salário digno para se manter.

Tudo isso foi um mal necessário, assim como às vezes a própria polícia é um mal necessário!  Não seria a hora de repensar nossa Segurança Pública? Famílias estão sofrendo, isso já não é suficiente?

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