terça-feira, 16 de junho de 2015

NOVO CURSO PARA POLICIAIS MILITARES VAI PRIORIZAR TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS.

Casos como o do menino Eduardo de Jesus serão debatidos. Duração será de um ano, incluindo 60 dias de estágio


RIO — No dia 2 de abril, véspera do feriado da Paixão de Cristo, Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, foi morto na porta de casa com um tiro de fuzil durante uma operação da PM no Complexo do Alemão. O desespero da mãe diante do menino ensanguentado no chão fez com que moradores, exaltados, chamassem os policiais de assassinos. Alguns PMs reagiram com xingamentos. Casos como esse serão discutidos em sala de aula no próximo curso de formação de soldados da corporação, cuja grade passou por um profunda reformulação. Uma das principais mudanças foi no tempo de duração, que passou de nove meses para um ano, incluindo 60 dias de estágio.

Quatro disciplinas formam a espinha dorsal do novo currículo: ações de polícia de proximidade, administração de conflitos, treinamento de tiro para defesa pessoal e uso de tecnologia não letal. As aulas continuarão sendo dadas no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP) e a próxima turma de 500 alunos — o quarto grupo que passou no concurso de 2104 — começará a ser treinada em setembro.

ANALISAR ANTES DE AGIR

O subsecretário de Educação, Valorização e Prevenção da Secretaria de Segurança, Pehkx Jones Gomes da Silveira, explicou que o objetivo do novo currículo será fazer com que o PM analise cada situação antes de agir:

— O desafio é fazer com que o policial minimize a chance de conflito. Ele não pode agir para piorar a situação. O policial, muitas vezes, é forçado pela opinião pública a querer fazer justiça. Não queremos isso. A população tende a achar que o PM que atua na favela age de maneira diferente no asfalto. Ele representa o estado em qualquer situação e deve prestar um serviço à sociedade da mesma forma, em qualquer situação.

Na opinião do superintendente de Educação da Secretaria de Segurança, major Leonardo Mazzurana, com o novo curso, o policial sairá da condição de mediador ou participante de conflito para assumir uma posição de orientador.

— O policial militar é o representante da PM nas ruas, por isso a importância das aulas de estratégias de proximidade e de administração institucional de conflitos. Cabe ao agente encaminhar o problema para quem tem a tarefa de solucioná-lo. Ele não pode ficar no centro do problema — afirmou Mazzurana.

Atualmente, o aspirante a soldado estuda 27 matérias em 1.084 horas. Com a nova estrutura do curso, serão 32 disciplinas e 1.437 horas de aulas. Hoje, devido ao material disponível, o aluno avalia muitos casos que ocorreram nos Estados Unidos. Agora, o foco será os problemas que o policial militar enfrenta na jornada diária no Rio.

A ampliação da duração do curso possibilitará mais horas de treinamento na chamada Sala de Tomada de Decisões do Centro de Instrução Especializada em Armamento e Tiro.

— O local funciona com um grande simulador e tem telões que apresentam vários tipos de ocorrências. Os instrutores vão acompanhar as reações dos alunos no mundo virtual, fazendo os ajustes necessários para que eles atuem com segurança e evitem erros na vida real. Com certeza, vamos preparar um policial melhor — prometeu o coronel Luiz Cláudio dos Santos Silva, diretor de ensino do CFAP.

Fonte:  O Globo

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