quarta-feira, 14 de setembro de 2016

MODELO DE SEGURANÇA PÚBLICA FALIDO E DESUMANIDADE. SOMOS TODOS RESPONSÁVEIS!

Até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo”, mas roubaram a nossa coragem.


Querem a imparcialidade, a verdade, o comprometimento ético no processo de formação de opinião. Na academia nos condicionam a trabalhar com a razão sob a justificativa de que a emoção particular não deve influenciar a ideia alheia, e isso nos é cobrado diariamente. Contudo, esquecem que por trás da armadura desenvolvida, e que estereotipa o jornalista como o frio representante do quarto poder, há um coração que pulsa.

Por vezes fiz da lauda espaço para expor a problemática da segurança pública não com o objetivo de apontar culpados, mas para alertar de que algo não ia bem, de que não cabe apenas à polícia o comprometimento da ordem social.

À família compete a base dessa ordem, à escola o desdobramento desse discernimento, ao Estado (três poderes governamentais), através de políticas públicas de integração, combate à criminalidade, ressocialização, dentre outras, a garantia de manutenção, à polícia (justiça) a cobrança e punição pela falha dos demais segmentos que formam o pilar da segurança.

A polícia reprime e repara porque houve o dano. O dano existe porque preza-se somente pela abordagem do tema voltada às medidas de vigilância e repressão, e não à segurança pública enquanto sistema integrado e otimizado prudencial, de coação, justiça, defesa de direitos, saúde e social.

Mas como ser imparcial em um momento em que prevalece a desordem? Como ser formador de opinião se querem que maquiemos a realidade? Como prezar pela verdade quando somos bombardeados com dados que claramente mostram a falta dela? Como ser jornalista sem ser emotivo, quando o problema é olhado com os olhos humanos?

Redijo hoje não apenas como profissional de comunicação, mas também como mãe. Impossível levar à tona diariamente a falência do modelo de segurança que hoje não afeta somente a sociedade, mas principalmente militares e civis, e não ser envolvida pela dor de um militar, chefe de família, pai que coloca em risco à obediência ao militarismo e expõe ao mundo o seu colapso familiar.

Refiro-me ao desabado do PM Isaías Silva que, no direito de cidadão e ante a repressão militar, gritou a dificuldade que hoje não é única e faz de militares servidores desmotivados, que precisam se desdobrar para garantir a sobrevivência. Já não é mais o parcelamento do salário atrasado, somente, é o estímulo inconsciente ao famoso "bico", é a submissão à perda da farda para evitar morrer de fome.

Como eu, mãe, não sentir a dor de quem chora pelo filho? Como eu, comunicóloga, julgar quem está amordaçado enquanto a liberdade de expressão me é favorável? Choram os olhos e sofre a alma por ver que a "humanidade é desumana", que "até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo", mas roubaram a nossa coragem.

Infelizmente esse militar, após menos de 24h do "estouro", já foi ajuizado por muitos e submetido à oitiva para explicações. A onipotência precisa ser mantida, ainda que de forma imposta. O aquartelamento precisa ser evitado, mas a fome, talvez essa espere.

"Tudo é dor. E toda dor vem do desejo de não sentirmos dor". Roubaram a nossa coragem, mas não nos derrotaram nessa operação intitulada DESUMANIDADE. Enfim, "lembra e vê que o caminho é um só": viver, ver o sol bater na janela do quarto. "A recordação da felicidade já não é felicidade; A recordação da dor ainda é dor" (George Lord Byron).

*Foram usados no texto trechos da música Quando o sol bater na janela do teu quarto, de Renato Russo.

Fonte:  Itnet (Iane Gois)

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