segunda-feira, 9 de julho de 2018

"NÃO HÁ MAIS LUGAR PARA POLÍTICOS QUE TRABALHAM NA LINHA DO ROUBA, MAS FAZ", DIZ ALESSANDRO VIEIRA.


Pré-candidato ao Senado Federal, Alessandro Vieira afirma nesta entrevista que concedeu ao Universo, no último sábado, dia 7, que existe uma grande falta de informação sobre como funciona o sistema político e sobre quem são os políticos sergipanos. Confiando na inteligência do eleitor, ele salienta que, na medida em que o cidadão compreende que não há mais lugar para políticos que trabalham na linha do “rouba, mas faz”, políticos que investem na mentira e no populismo ou na compra do voto, haverá uma melhora no processo de escolha. Alessandro afirma também que falta coragem aos órgãos fiscalizadores para combater a corrupção eleitoral. “Falo com pleno conhecimento de causa. Uma investigação sobre corrupção, inclusive a corrupção eleitoral, não é mais complexa do que uma investigação sobre tráfico ou homicídio, por exemplo”, diz.

O que o motivou colocar seu nome como pré-candidato ao Senado Federal?

Eu nunca tive qualquer tipo de projeto político pessoal, nunca fui militante partidário ou mesmo estudantil. A decisão de ingressar na política se deu por duas razões básicas: a necessidade de impulsionar a renovação nos nomes, práticas e princípios da política sergipana, que é comandada pelos mesmos homens há cerca de 50 anos, e a constatação de que a contribuição que prestei no serviço público, como delegado de polícia, ao longo de 17 anos, não é suficiente para efetivamente mudar a vida das pessoas para uma condição melhor, pois a velha política continua no comando do estado e impede qualquer iniciativa mais contundente de renovação. A escolha do senado passou por uma análise sobre como posso contribuir para estimular e alavancar o maior número possível de pessoas interessadas em participar do processo de renovação e também pela clareza de que é justamente no senado que Sergipe precisa mais urgentemente de uma renovação. Basta uma breve olhada nos nomes dos pré-candidatos já apresentados para constatar que são mais do mesmo ou coisa pior. Minha luta é no sentido de mostrar que é possível ser diferente e fazer a diferença, me espelhando muito no trabalho realizado pelo hoje senador pelo DF Reguffe.

O fato de não ser tão conhecido do eleitorado como outros pré-candidatos apenas dificulta o êxito do projeto ou também tem o seu lado positivo, já que o desgaste é zero? 

A receptividade do povo sergipano tem sido muito boa, em todos os lugares e níveis sócio-econômicos. São os desafios naturais do processo eleitoral, mas o fato de já ter um trabalho reconhecido na sociedade e de ter um histórico de enfrentamento dos poderosos ajuda muito no avanço. É muito diferente do pré-candidato que surge “do nada” ou precisa dos grandes marqueteiros para “fingir ser o que não é ou ainda pior, para esconder o que verdadeiramente é”. As pesquisas que são publicadas são de baixa confiabilidade, basta ver que no intervalo de duas semanas um instituto me atribuiu intenção de voto de 0,8% e outro a intenção de voto de 9,4%. Porém, as pesquisas para consumo interno são um pouco mais confiáveis e apontam uma evolução constante na intenção de votos e um potencial de crescimento muito elevado. Essa situação, somada ao crescimento no número de voluntários espalhados por todo o estado é um indicativo de que estamos no caminho certo.

A sujeira que permeia o meio não o assusta? O lugar comum que reza que “política não é para as pessoas sérias”?

Não tenho nenhum receio com relação ao meio político, não sou influenciável ou mudo de postura conforme o meio onde me encontro. Sou sempre o mesmo Alessandro, com defeitos e qualidades, e todos que me conhecem sabem disso com clareza. Não faço discursos de conveniência ou fujo do embate. Aprendi desde cedo que a integridade do caráter é a grande virtude que uma pessoa deve ter e conservar. Por fim, lembro que a política é o espaço onde se decide as coisas mais importantes para a vida dos cidadãos. Logo, deve ser um lugar ocupado por gente muito séria. Hoje não é assim, temos um Congresso Nacional com cerca de 70% de investigados/denunciados/condenados. Vamos trabalhar para mudar este quadro nas próximas eleições.

Os debates eleitorais, muitas vezes, descem a níveis rasteiros. Qual a melhor postura para um candidato idôneo nestes momentos?

A postura é de total transparência e clareza sobre todos os assuntos. Sempre me portei assim enquanto delegado de polícia, nunca me escondi mesmo nos momentos mais difíceis. A minha fala é respeitosa, mas dura e absolutamente clara com relação ao passado e presente dos demais participantes do processo político sergipano. É preciso garantir que o eleitor de Sergipe chegue às urnas bem informado sobre quem são verdadeiramente os candidatos disponíveis nas urnas.

O eleitor, em sua maioria, não acaba sendo conivente com isso, já que muitos políticos useiros desta prática acabam sendo eleitos?

Eu confio muito no eleitor sergipano. Acredito que existe uma grande falta de informação transparente sobre como funciona o sistema político e sobre quem são os políticos sergipanos. Na medida em que o cidadão compreende que não há mais lugar para políticos que trabalham na linha do “rouba, mas faz”, políticos que investem na mentira e no populismo ou na compra do voto, melhor será a qualidade do processo de escolha. Vamos atuar com muita força neste sentido de informar o cidadão. No momento em que as candidaturas estiverem confirmadas no TRE, vamos colocar no ar um site com todas as informações disponíveis sobre cada um deles, para que o eleitor possa se informar com facilidade.

O poder econômico tem cada vez mais influência nos resultados das eleições. Parece que, na prática, o uso ilegal de recursos, como, por exemplo, o imoral caixa dois, “ninguém consegue acabar”. Qual a melhor forma de os candidatos sérios enfrentarem esta disputa desleal?

Existem dois caminhos claros: o primeiro é estimular a fiscalização dos cidadãos comuns e cobrar dos órgãos de controle maior rapidez e eficiência. O segundo é contar com as doações de pessoas físicas através das chamadas vaquinhas eleitorais e diretamente ao candidato durante o processo eleitoral, conforme permitido em lei. As pessoas de bem vão tomar cada vez mais consciência de que existe um papel ativo para elas nas eleições, não apenas votando, mas também pedindo votos, participando da divulgação dos candidatos e ajudando a financiar campanhas baratas e honestas. Hoje temos cerca de 400 pessoas participando ativamente da nossa pré-campanha, todos na condição de voluntários e sem nenhum tipo de remuneração. Sou absolutamente contrário aos fundos partidário e eleitoral como existem hoje, garantindo bilhões de reais para campanhas dos velhos partidos dominantes e dificultando a renovação. Não pretendo usar nenhum recurso dessas fontes na minha caminhada.

Os órgãos engendrados para fiscalizar estão impotentes frente ao problema da corrupção eleitoral, que, praticamente, todos sabem que existe, mas “ninguém” consegue provar, para que a Justiça faça sua parte? 

O que falta é vontade e coragem. Falo com pleno conhecimento de causa. Uma investigação sobre corrupção, inclusive a corrupção eleitoral, não é mais complexa do que uma investigação sobre tráfico ou homicídio, por exemplo. Pelo contrário, o fato dela ser praticada em um ambiente de absoluta impunidade torna a investigação ainda mais fácil. Durante o período de gestão que tivemos na Polícia Civil, com uma equipe técnica competente e corajosa, mostramos que é possível enfrentar modalidades criminosas que sempre foram inatingíveis em Sergipe. Todos viram grandes empresários, altos funcionários públicos e políticos sendo tratados com todo o rigor da lei, como sempre ocorreu com as camadas mais pobres e o chamado “crime de rua”.

Quais seriam as prioridades de um eventual mandato seu?

Existem três eixos básicos, que são Segurança Pública, Saúde e Educação. Dentro do eixo Segurança Pública, além do reforço expressivo nas ferramentas para o combate à corrupção, pretendemos apresentar e buscar aprovar projetos que ataquem diretamente os gargalos do setor, como a falta de financiamento e a legislação penal e processual penal frouxa. É preciso estruturar um verdadeiro Plano Nacional de Segurança, que começa nas fronteiras com uma atuação redesenhada das Forças Armadas e desemboca nas cidades com Guardas Municipais fortalecidas e bem estruturadas, com acompanhamento dos Conselhos de Segurança, ferramenta essencial para aproximar a comunidade da gestão e fiscalização da Segurança Pública. No tocante à Saúde, enfrentar o desafio da qualificação do serviço de atenção básica nos municípios, reforçando o fluxo de financiamento e a fiscalização do emprego dos recursos. Na área de Educação, atuar da rediscussão do Fundeb para que o investimento em Educação básica seja assegurado em níveis adequados, também com reforço na gestão e fiscalização destes recursos, mas também atuar no sentido da valorização e reestruturação da carreira do magistério. Não existe em nenhum lugar do mundo uma educação de qualidade sem bons professores. É preciso acabar com o achatamento da carreira, garantir o estímulo à qualificação continuada e revisar os conteúdos do curso de pedagogia, que devem ser mais compatíveis com as melhores práticas mundiais. Também existe a necessidade de enfrentamento das reformas estruturantes, como as Reformas Política, Tributária e Previdenciária, bem como o combate irrestrito a privilégios e gastos inúteis. O exemplo deve partir do próprio exercício do mandato. Um senador da República que atue de forma responsável e econômica pode gerar ao longo dos 8 anos uma economia direta de até 18 milhões de reais. É muito dinheiro e aponta o tamanho do desperdício e da ineficiência. Não sabemos com clareza o que eles fazem com tanto dinheiro, que dias e quantas horas trabalham e o que desejam fazer no exercício do mandato. Nesta seara, nossa proposta é absolutamente diversa. Apresentação de plano de mandato anual, ou seja, o que se pretende fazer ao longo do ano para que o eleitor possa acompanhar e cobrar, prestação de contas diária, agenda aberta e sempre que possível com transmissão online e a utilização de aplicativos para a consulta direta ao eleitor sobre a destinação de recursos de emendas parlamentares e sobre as matérias mais polêmicas em discussão no Congresso. É preciso estimular uma cultura de participação popular e de fiscalização. Precisamos devolver o máximo de poder de decisão ao cidadão comum, que é quem financia toda a máquina pública e hoje não em a menor ideia do que é feito com os recursos obtidos com a maior carga tributária entre os países em desenvolvimento.

Por que Sergipe, mesmo sendo geograficamente pequeno, registra tantos casos de violência?

A Segurança Pública em Sergipe foi vítima de um abandono continuado ao longo da última década. Um dos exemplos mais absurdos é o fato de termos hoje menos policiais militares do que na década de 90. Vinte anos depois temos menos policiais nas ruas. Não existe um planejamento, mas apenas a brava atuação das polícias para combater as crises conforme elas ocorrem. Mesmo os concursos públicos que finalmente começam a acontecer são muito mais fruto de pressão pelo cenário político eleitoral do que parte de um planejamento organizado. Enquanto o estado se desorganiza cada vez mais, o crime chega com força nas cidades e povoados do interior e se organiza cada vez mais em Aracaju. É possível mudar completamente este cenário, desde que tenhamos governantes responsáveis e efetivamente interessados na segurança dos sergipanos.

É possível termos esperança a curto prazo?

Sim. Em vários estados e também fora do Brasil temos exemplos de grandes melhoras em curto espaço de tempo. Elas sempre estão ligadas à qualidade da representação política escolhida. Quanto mais pessoas qualificadas e sérias assumem os espaços de poder, melhores são as políticas públicas e mais claros são os avanços na qualidade de vida das pessoas. É por isto que a esperança passa diretamente pelas escolhas que faremos nas urnas em outubro. Acredito em gente nova, corajosa e competente mudando Sergipe e o Brasil para uma situação muito melhor.

Fonte:  Universo Político (Joedson Telles)

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