terça-feira, 22 de setembro de 2020

EM 50 DIAS, NÚCLEO PSICOSSOCIAL JÁ ATENDEU 80 MILITARES.

Após morte de soldado cometida por sargento da PM, necessidade de apoio à categoria é latente

Na noite do último sábado, 19, um integrante da Polícia Militar de Sergipe (PM/SE), identificado como sargento Mathias, tirou a vida de um colega de trabalho, o soldado Cristiano Rondynelli Gomes Melo, de 34 anos. Segundo informações preliminares, um grupo de quatro policiais militares estava em um bar no Município de Monte Alegre de Sergipe, quando, ao entrarem em um veículo para fazer o deslocamento para o Município de Nossa Senhora da Glória, uma discussão teve início e culminou com a morte do soldado.

No início do ano, no Bairro Bugio, um policial militar entrou em surto psicótico e, com uma arma em punho, ameaçou tirar a própria vida por 11 horas até ser convencido por colegas a desistir do intento. Relatos de casos como estes demonstram uma corporação adoecida e com a necessidade premente de atendimento psicológico. São histórias silenciosas e, muitas vezes, invisíveis para uma sociedade acostumada a ver na figura do policial uma fortaleza montada para impressionar.

E o que tem em comum nessas histórias? Segundo os próprios policiais, o abandono por parte do Estado. Para se ter ideia do que relatam esses policiais, em julho de 2011 o Estado criou, através do decreto nº 27.938, o Núcleo Atenção Psicossocial (NAPSS), um serviço intra-hospitalar de assistência multiprofissional e reinserção social do usuário, prevenindo internações psiquiátricas desnecessárias e compulsivas, além de combater o preconceito e a discriminação entre colegas militares. Apesar dos benefícios oferecidos aos militares, o NAPSS teve uma vida curta, funcionando por poucos meses. De lá para cá, diversas associações militares pleiteavam o retorno desse serviço, tendo inclusive judicializado a questão, que há pouco mais de um mês parece ter sido resolvida pelo Comando Geral da PM.

De acordo com a capitã Joanete Pina, psicóloga e coordenadora do NAPSS, o serviço retornou com força total e em 50 dias já realizou 80 atendimentos. “O serviço retornou tem pouco tempo. Ele tinha sido desativado numa gestão anterior e o coronel Marcony viu a necessidade de retorno. Nós estamos estruturando todo o núcleo com os nossos psicólogos e assistentes sociais. Já estamos preparando também onde funcionará a base do núcleo. Os nossos atendimentos, atendendo a recomendação da OMS, estão sendo remotos. Mas a todos os policiais que procuram temos dado esse suporte.

A demanda tem sido muito grande. Temos até dificuldade em atender, mas temos atendido. Temos um mês e um pouquinho que retornamos, mas estamos com muita força. Nesse período já fizemos 80 atendimentos, entre policiais e familiares. Temos o apoio total e irrestrito do coronel Marcony e do coronel Andrade”, explica a gestora do núcleo.

Segundo ela, o serviço tem sido intensificado com visitas aos batalhões com o intuito de se aproximar dos policiais e tentar desmistificar a questão de que o atendimento psicológico é destinado a pacientes com grau de loucura. “Estamos com a atividade de ir aos Batalhões para fazer levantamento de demanda desses policiais. Estamos fazendo muito, como podemos, independente de dia e de hora da semana. É um serviço que as pessoas querem ver produtividade, mas é um serviço que é velado. Eu não posso dizer quem a gente está atendendo. A ética do serviço psicológico é muito maior. Estamos indo aos batalhões para tirar o rótulo, acabar com esse estigma de que quem faz atendimento psicológico é louco. Todos nós, inclusive o próprio psicólogo, precisa de atendimento”, pontua a capitã Joanete.

Recentemente, o Núcleo de Apoio Psicossocial foi contemplado com uma viatura através de convênio firmado com o Projeto Provida, desenvolvido pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). Com isso, as ações devem ser intensificadas tanto na capital quanto no interior do Estado.

Foto:  Jornal da Cidade (Diego Rios)

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