Eles já chegam à impressionante marca de 900 mil no país, formando um exército de dependentes químicos da cocaína e crack, que não para de crescer, de acordo com levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), desafiando a rede de assistência pública brasileira. Desde junho do ano passado, o governo reservou quase meio bilhão de reais para alterar a realidade, mas até agora não foram aplicados nem 20% dos recursos previstos, apesar da deficitária estrutura de atendimento. Pior. Nos últimos meses foram vários os anúncios solenes da decisão política de conter o avanço do crack no Brasil, o último deles em fevereiro, quando a presidente Dilma Rousseff defendeu a montagem de um quartel-general para vencer essa guerra. Ainda assim, o Plano Nacional de Combate ao Crack e outras drogas, anunciado ainda no governo Lula, não decola. Isso, apesar de a considerável cifra de R$ 410 milhões ter sido pulverizada entre os ministérios da Justiça, Saúde e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Hoje, o Brasil nem sequer conhece a face de seus dependentes químicos, especialmente os do devastador subproduto da cocaína, capaz de provocar a demência pelo uso continuado e até a morte em curto prazo. O último levantamento oficial sobre o uso de drogas no país foi em 2005, e uma nova pesquisa seria concluída em março. Mais uma vez, fez água, conforme admite a Secretaria Nacional de Política sobre Drogas, que não explica a razão para a não realização do levantamento. Com a bomba no colo, os prefeitos, por meio da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), fizeram pesquisa, em dezembro do ano passado, que mostra a dimensão do problema: 98% dos municípios brasileiros têm dependentes químicos, inclusive, de crack. Para isso, foram pesquisados 3.950 (71%) dos 5.564 municípios. Destes, apenas 14,7% têm Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) e 8,4% contam com programas locais de combate ao crack. Ao todo, 62,4% declararam não receber apoio financeiro federal, estadual ou de instituições.
Contramão
Mesmo sem dados científicos sobre a realidade brasileira do crack, a secretária Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte surpreendeu ao trilhar na contramão das prioridades do próprio governo e defender a tese de que o país vive uma epidemia de crack “é uma grande bobagem”. As cracolândias, que se proliferam por várias capitais brasileiras, saltam aos olhos de qualquer cidadão. Ainda assim, o Plano de Enfrentamento do Crack e Outras Drogas deixa de contemplar cerca de 62% dos municípios brasileiros com a rede de atendimento pública a dependentes. Ele limitou o acesso às ações a cidades com população acima de 20 mil habitantes, um total de 1.643 (29,5%). Para os demais, está prevista apenas a possibilidade de implantação de núcleos de apoio à Saúde da Família.
Para ter ideia da densidade da cortina de fumaça na assistência aos dependentes, no ano passado, a Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad) anunciou, com grande alarde, a contratação de 2,5 mil leitos em todos o país. Num primeiro momento, a cifra causou impacto, mas foi seguida de frustração, porque, na ponta do lápis, significa menos de meia vaga para cada município brasileiro.
A tentativa de lançar editais públicos para contratação de vagas de internação também não surtiu efeito. Foram tantas as exigências que não houve interessados. O imbróglio com os recursos para o combate ao crack teve início em 2009, quando o então ministro da Saúde, José Gomes Temporão, liberou R$ 180 milhões para combater a droga. Como não foram aplicados, em junho de 2010, o valor passou a fazer parte dos R$ 410 milhões anunciados por Lula. Não aplicados, se tornaram restos a pagar a serem usados este ano.
Ouvinte Agora, a presidente Dilma tenta tomar as rédeas do processo. No dia 22, ela se reuniu com representantes de 13 comunidades terapêuticas e o psiquiatra Aloísio Andrade, coordenador-geral do Fórum Nacional de Conselhos Estaduais e presidente do Conselho de Políticas sobre Drogas de Minas. Ouviu relatos de experiências por duas horas e meia. Impressionou a todos como boa ouvinte e se comprometeu a incluir as entidades nas estratégias de governo e criar forma de financiamento das ações.
Você se lembra?
"Temos um quadro extremamente preocupante no que se refere às drogas e à criminalidade. Meu governo vai fazer um combate sustentável ao crack. Tenho o compromisso de levar uma luta sem quartel ao crack" - Dilma Rousseff, presidente da República, em 17/2/2011
Fonte: Estado de Minas
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