quinta-feira, 29 de novembro de 2018

VERGONHA: FALTAM MEDICAMENTOS E INSUMOS NA SAÚDE DE SERGIPE.

Pacientes relatam tratamento desumano no Hospital de Urgência

Foto: Divulgação

“Lá, os médicos e enfermeiros são bons e estão lá porque gostam, porque não têm condições nenhuma de trabalho digno. Meu filho ficou 40 dias na UTI e lá faltou dipirona em gotas. Gente, dipirona é R$ 2. Faltou uma sonda nasoenteral, que se não fosse o Gacc, seria bem difícil. Uma sonda nasoenteral é R$ 8. Faltou na UTI. Na verdade, lá sempre falta de tudo um pouco e de forma constante”.

O relato é de Naiara de Jesus Santos, mãe do adolescente Anthony Gabriel, de 13 anos, que faleceu na Ala Vermelha do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) no último dia 18, vitimado por um carcinoma diferenciado na nasofaringe, um tipo raro de câncer.

Gabriel era um garoto amoroso e que nutria muitos sonhos. Porém, teve a sua vida interrompida pela doença. Para Naiara, foram os noves meses mais difíceis de sua vida e, se não fosse pela ajuda do Grupo de Apoio à Criança com Câncer (Gacc), a situação seria ainda pior.

A mãe relata que o filho necessitou usar um aparelho ‘port cath’, que auxilia o paciente na ingestão de medicamentos e evita as furadas constantes provocadas pelas agulhas, porém, só foi possível, graças a ajuda de amigos do município de Nossa Senhora da Glória, onde residem os seus familiares.

“No início do tratamento de Anthony, a gente cogitou em colocar, e Dr. Venâncio, que era o médico dele, disse que ia tentar colocar pelo próprio hospital e assim a gente fez. Ele encaminhou para o cirurgião, que disse que teria o ‘port cath’, mas ele não faria e nem explicou o motivo. A gente foi e colocou o port cath particular. No tempo, a gente não tinha tanto acesso ao Gacc e pagamos R$ 5.500. Como a gente mora no interior, muita gente ajudou. Fizemos um bingo e arrecadamos o valor”, afirma a mãe.

O caso de Anthony é apenas mais um com um triste fim. Os relatos de pacientes vão desde a espera de medicamentos, falta de insumos a, até mesmo, o retardo no início de tratamentos essenciais para a manutenção da vida.

O supervisor de Comunicação Social do Gacc, Fred Gomes, confirma os relatos e vai mais além. Segundo ele, é imprescindível a atuação da Instituição, uma vez que o Poder Público deixa uma grande lacuna que resulta em sofrimento e morte de pessoas.

“Uma situação precária que os pacientes com câncer hoje vivem. Uma falta de respeito do Poder Público, dos seus gestores. Falta medicamento, sempre faltou. É constante a falta de medicamentos. Além dos medicamentos, a gente passa também por falta de insumos. Falta agulha, já recebemos pedido de agulha para que uma criança pudesse receber uma punção, falta assistência rápida para o tratamento, no que diz respeito a exames”, lamenta Fred.

O supervisor do Gacc diz ainda que a entidade recebe, semanalmente, pedidos para a realização de exames como o Pet-Scan, ultrassonografia e ressonância magnética. Para se ter ideia da gravidade da situação, até biópsia o Gacc acaba pagando para pacientes que precisam correr contra o tempo para manterem-se vivos. Uma luta, onde cada segundo faz toda a diferença.

Atualmente, medicamentos como o Taxol, Prednisona e Carboplatina, indispensáveis para o tratamento do câncer, estão em falta. Apesar disso, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que os pacientes não ficaram desassistidos, pelo mesmo com relação ao Taxol, uma vez que o órgão pegou emprestado com outros Centros de Saúde, inclusive, 20 caixas vieram do Estado de Alagoas.

“O Taxol, a Secretaria de Estado da Saúde fez o pedido de forma antecipada à empresa que ganhou a licitação, que por sua vez justificou problema em um dos itens de produção. A SES, então, contatou a segunda empresa e, no entanto, ela solicitou um reequilíbrio de preço de mais de 25%, o que não é permitido por lei. A Saúde estadual acionou, por fim, a terceira que estará entregando 1.000 frascos amanhã. Infelizmente uma situação como essa acaba atrasando um pouco a entrega, foge do nosso planejamento”, explicou o assessor de comunicação da SES, André Carvalho.

Sobre a falta de diversos outros medicamentos, o assessor diz desconhecer a informação e que esses medicamentos são ofertados pelo Case e também pelo Huse. Segundo ele, a Carboplatina chegaria ontem ainda e, no período da tarde, já estaria disponível para a distribuição. Já a Prednisona, o assessor informou que esse medicamento é disponibilizado pelas Prefeituras.

Com relação à demora na realização do Pet-Scan, André Carvalho informou que o tempo é de cerca de nove dias. Porém, o supervisor do Gacc desmente essa informação.

“Se você chegar para o Estado, eles vão dizer que oferecem Pet-Scan, só que os médicos precisam de um resultado desse em 15 dias. Eles não fazem nesse tempo. Vai passar um mês e a criança ainda vai estar esperando. Acabam as instituições pagando. Se o paciente tiver vivo, inicia o tratamento. Se não tiver, mais um para eles. Não funciona a Política Pública do nosso Estado”, declara Fred.

E não para por aí. A mãe do pequeno Anthony relata outro caso vivido dentro do Huse. Ela classifica a Saúde do Estado como algo desumano e muito terrível.

“Anthony quando saiu, precisava tomar granolokine, que é uma injeção para a medula começar a produzir leucócitos, e quando saímos não tinha. E se não fosse o Gacc, a gente não tinha como comprar, pois, uma era quase R$ 200. Anthony precisou de dez. Eu não tenho emprego, meu marido é assalariado, tenho mais quatro filhos, como era que eu ia conseguir comprar?”, questiona Naiara.

E finaliza enaltecendo o trabalho do Gacc no Estado. “O Gacc faz o que o governo nem pensa em fazer. Eles têm compaixão. Se não fossem eles, a gente sofreria mais com o descaso, porque faltam medicações, como falta quimioterapia, falta tudo. A Saúde Pública é uma negação, horrível, desumana. Eu já não tenho meu Anthony, mas espero que outras mães consigam manter os seus filhos vivos”.

Fonte:  Diego Rios/Equipe Jornal da Cidade

Nota do blog:  Parabéns ao Jornal da Cidade pela brilhante matéria. Infelizmente nada muda na nossa saúde pública. Necessário se faz uma fiscalização e posições mais rigorosas por parte dos órgãos fiscalizadores, pois estão lidando com a vida/morte dos pacientes que estão penando com a saúde caótica.

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