terça-feira, 23 de agosto de 2022

SEM ÔNIBUS, CRIANÇAS SÃO OBRIGADAS A CAMINHAR CNCO QUILÔMETROS PARA FREQUENTAR A ESCOLA NO MUNICÍPIO DE ITABI.

Segundo a prefeitura, as chuvas têm atrapalhado a recuperação da estrada, inviabilizando o uso de transporte escolar e transformando o percurso até à escola em uma rotina de medo e cansaço

De cabelo arrumado, banho tomado e uniforme limpo, um grupo de crianças do município de Itabi inicia todos os dias um trajeto de 5km a pé para poder estudar, por falta de transporte escolar. Com chuva ou sol forte, o desafio é cumprido - são 5 km na ida e 5 km na volta, ou seja, 10 km por dia, 50 km semanalmente. No início desta semana, uma sequência de vídeos viralizaram nas redes sociais mostrando essa triste realidade dos estudantes itabienses. Neles, uma mãe indignada gravou os filhos, e outros coleguinhas, caminhando por cinco quilômetros, numa estrada de chão, a caminho da escola.

O sol causticante é intercalado com pausas para hidratação. A mãe em questão é Bárbara Conceição Silva. Ela acompanha as suas três crianças nessa exaustiva peregrinação diária entre o povoado Pau de Fava, onde residem, até o povoado Mata Grande, onde está localizado o colégio. “Desde que retornou o segundo semestre das aulas que eles estão indo a pé porque choveu, aí o ônibus não desceu. As estradas são ruins. Há três semanas estava fazendo sol, só que o ônibus não desceu. Eu reclamei na quinta-feira que eu queria o ônibus e deu uma repercussão na internet. Quando foi na segunda-feira, o prefeito mandou as máquinas para fazer as estradas, só que em vez dele colocar piçarra, colocou foi barro. Deu um sereninho e o ônibus desceu para buscar as crianças e ficou atolado e as crianças tiveram que ir a pé, dentro da lama”, explicou a mãe. Segundo ela, a filha de apenas 9 anos não foi mais ao colégio depois disso.

“Sofrem as crianças e as mães das crianças que têm que levar. Do lugar que a gente mora para a Mata, onde eles estudam, é mais ou menos uns 5 km a 6. Eles saem de casa 11h30, para estar lá na Mata 13h. A gente quer a estrada pronta e quer o ônibus dos estudantes, que é direito dos meninos. A minha menina mesmo nunca mais foi estudar. A escola é importante para os meninos, é o que eles têm de futuro, o futuro deles”.

A situação é bastante complicada e um tanto quanto confusa. Ainda de acordo com a mãe das crianças, a Prefeitura de Itabi alega que o povoado onde eles residem, neste caso Pau de Fava, é território do município de Canhoba, apesar de ser mais distante da sede do que do povoado pertencente ao município vizinho. “Eles estão alegando que aqui é de Canhoba, mas a maioria da gente vota tudo em Itabi, só que é povoado de Canhoba. Os alunos aqui do Pau de Fava estudam em Itabi, na Mata Grande. Canhoba é no fim do mundo. Quando a gente fala das estradas, eles dizem que tem que procurar Canhoba. Quando é para pedir o voto eles não estão nem aí se é de Canhoba, de Aquidabã ou dos Estados Unidos”, reforçou Bárbara. Para o vereador Rosielmo de Tota, este não é um caso isolado. Ele também foi autor de um vídeo que circulou nas redes sociais, onde um ônibus escolar foi abandonado pela gestão municipal, por oito dias, no trevo que liga os municípios de Nossa Senhora de Lourdes e Gararu.

“Aquele ônibus está parado no trevo que vai para Nossa Senhora de Lourdes e Gararu já tem oito dias. Ele quebrou e ali ficou. É uma situação que eu nunca vi. Um prefeito que entrou agora e está deixando a desejar. Isso não pode, é crime. A Educação aqui em Itabi está zero, muito precária, está um caos. Tanto a Saúde, como a Educação está um caos. Eu fiz um vídeo com um ônibus escolar com os pneus mostrando o arame. Assim que eu denunciei, eles foram lá e colocaram pneus novos. Dinheiro tem, só no mês passado entrou quase R$ 2 milhões”, informou o parlamentar, que está no seu primeiro mandato.

PRECARIEDADE NO ENSINO

Quem também expõe a situação da Educação em Itabi é o professor Cleverton Aragão. Ele é lotado na Escola Municipal Professora Mariana Menezes Santana e aponta a precariedade no sistema de ensino público do município. “A gente trabalha em anexos em outras escolas, dividindo o espaço. Isso vem de várias gestões que nunca tentaram resolver a situação das escolas, das estruturas físicas. Nenhum gestor teve preocupação de investir em Educação, até porque nenhum tem filhos estudando em escola pública. Não falta merenda, mas não é boa. Servir cuscuz com ovos só, para mim isso não é uma alimentação boa, e ainda servem carne moída de péssima qualidade. Reunião aqui com o Conselho de Educação e a Secretaria é uma coisa muito rara. A secretária de Educação é uma nutricionista, prima do prefeito, família dele”, denunciou. Cleverton continuou: “Não recebemos o piso atualizado ainda. Ele fez uma proposta para pagar 10% em agosto e 5% em outubro. O restante para discutir ainda em dezembro. O correto seria pagar nossos 23,24% em janeiro e não desse jeito, para deixar dívida para o próximo ano, até porque teremos reajuste ano que vem de novo. Material didático a gente não tem. Eu trabalho num anexo do Colégio Mariana, onde a gente tem que ser tudo, diretor, professor e ainda trabalhar em um anexo”.

RESPOSTAS

O JORNAL DA CIDADE entrou em contato com a secretária de Educação do município de Itabi, Carolina Aragão, que explicou a situação na perspectiva da gestão. “Aquela região é muito perigosa e do lado tem um declive muito grande, o risco de um ônibus atolar e pode acabar derrapando para a grota, para o declive. Quando a gente suspendeu o fornecimento do transporte, além de atolar, que é um transtorno, foi para prevenir um acidente. Infelizmente, as pessoas não entendem que a segurança dos alunos tem que ser em primeiro lugar. Claro que a gente não queria que o aluno fosse caminhando, mas ele caminhando não tem risco de vida. Não temos como ver a situação de todos os alunos individualmente, a gente faz as rotas e englobamos todos os alunos”.

Apesar da questão territorial, Carolina reconhece a responsabilidade em relação aos alunos do Povoado Pau de Fava. “Na Lei de fornecimento de Educação e de transporte escolar, a gente tem um artigo que fala que a gente precisa fornecer transporte, desde que esse aluno esteja matriculado em uma escola que seja a mais próxima da casa dele.


A escola mais próxima da casa desses alunos, de fato, é a do Povoado Mata Grande. A partir do momento que o aluno está matriculado na nossa rede, a gente acaba tendo que fornecer o transporte, por isso que a gente nem colocou isso na conta do município de Canhoba, a gente viu que realmente seria o nosso papel”, afirmou. Por fim, a secretária de Educação disse se tratar de uma questão política partidária. “Na nossa gestão, todos os alunos estão contemplados com o transporte escolar, aqueles que precisam dentro da quilometragem necessária, todos os ônibus têm monitor de transporte escolar, que antigamente isso não acontecia, mas a gente não está aqui para falar de outras gestões. Muito dessa denúncia é uma coisa sensacionalista para tentar prejudicar a gestão. O que está ao nosso alcance a gente está fazendo, inclusive trabalhando sol a pino como foi no sábado”, rebateu a gestora.

A reportagem também entrou em contato com o secretário de Obras do município de Canhoba, Simão Ferreira, para saber sobre a responsabilidade em relação ao Povoado Pau de Fava. De acordo com o gestor, o local onde os ônibus estão atolando faz parte do território de Itabi e não de Canhoba, como foi dito pela prefeitura itabiense. Ao saber do jogo de empurra-empurra dos gestores municipais, a mãe das crianças afetadas com a falta de transporte escolar apelou, se colocando à disposição da Prefeitura Municipal de Itabi para ajudar com algumas caçambas de piçarra com o objetivo de resolver a situação e que os filhos possam voltar a frequentar a escola sem precisar ir à pé. “Eu falei com o vice-prefeito que se precisar de duas, três caçambas de piçarra eu dou aqui do meu terreno para eles colocarem nas estradas para as crianças irem para as escolas. Eu quero é condição para as crianças estudarem. Ele visualizou e não me respondeu nada no zap”, lamentou Bárbara Conceição.

Fonte e foto:  Jornal da Cidade

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