terça-feira, 4 de outubro de 2022

DELEGADO ALESSANDRO VIEIRA: DE FENÔMENO A FRACASSO RETUMBANTE, ESCREVE DELEGADO PAULO MÁRCIO.


Perguntado certa feita sobre como passaria para a história, Winston Churchill, estadista britânico mundialmente famoso pela atuação na Segunda Guerra Mundial, respondeu, com a imodéstia que lhe era peculiar: “A história será gentil para mim, já que pretendo escrevê-la”.

Alessandro Vieira, delegado de polícia eleito senador por Sergipe em 2018 com um discurso que conseguia milagrosamente mesclar bandeiras caras ao conservadorismo com as mais “sonháticas” pautas marineiras, também arvorou-se historiador dos próprios feitos, produzindo uma autobiografia com toques de puro delírio megalomaníaco e realismo fantástico.

Eleito pela Rede, diplomado e empossado com as cores do PPS/Cidadania e atualmente abrigado no ninho tucano sob o beneplácito de João Dória Jr, Alessandro surfou na onda da Lava Jato e vendeu-se como um modelo de enfrentamento à corrupção, perseguido pelos poderosos a quem atualmente tenta desbancar, para instaurar em Sergipe um reino de moralidade, justiça e prosperidade eternas.

Ocorre que o Alessandro da hagiografia é completamente diferente do Alessandro real: um indivíduo no qual se identificam de maneira inequívoca algumas das características comuns à Triade Negra ou Tríade Obscura (Dark Triad): terminologia utilizada por especialistas para unir três traços negativos da nossa psicologia: a psicopatia, o narcisismo e o maquiavelismo.

É impossível não identificar no comportamento do senador Alessandro a frieza emocional, o baixo nível de agradabilidade, a falta de empatia, a capacidade de manipulação de terceiros pela exploração de suas vulnerabilidades, o cinismo e a amoralidade, que reduzem pessoas a meros objetos para uso e posterior descarte (Bereczkei, Tamás: 2019).

Aqui cabe um alerta: com mais quatro anos de mandato pela frente, Alessandro inevitavelmente ludibriará alguns incautos e tantos outros deslumbrados com os seus discursos aparentemente racionais, mas tão vazios e sem alma que mais parecem ter sido escritos por uma estranha inteligência artificial. Todavia, os efeitos deletérios desse seu comportamento modulado por algoritmo já se fazem sentir de uma maneira dramática no seio do grupo sob seu comando.

Danielle Garcia (Podemos), favorita na disputa pela única vaga ao Senado, sentiu o impacto negativo de ter participado de uma chapa majoritária encabeçada por Alessandro Vieira, terminando a disputa em quarto lugar.

Não obstante todo o desgaste e sabotagem sofridos, a delegada obteve expressivos 206.135 votos no dia 02 de outubro. O bom desempenho neste pleito, somado à notável votação alcançada na sucessão municipal de 2020, alça Danielle à posição de maior liderança do campo da oposição, ao lado do ex-prefeito de Itabaiana, Valmir de Francisquinho (PL).

Tamanha confiança depositada pelo povo leva Danielle a obrigatoriamente refletir sobre seus próximos passos (e companhias) na caminhada política – isso se quiser, evidentemente, escapar do vórtice que suga tudo ao seu redor e ocupar, pelas qualidades que possui, o espaço proporcional à sua dimensão.

É, ademais, bastante sintomático o fato de nenhum dos partidos liderados por Alessandro Vieira ter conquistado cadeiras na Câmara dos Deputados. No mesmo sentido, o desprestígio e falta de habilidade política do senador contribuíram decisivamente para a redução do número de cadeiras do agrupamento na Assembleia Legislativa, acendendo uma luz amarela nos bastidores.

Assim, rejeitado pela direita e desprezado pela esquerda, o imperscrutável senador Alessandro Vieira não passou de mero figurante na sucessão estadual de 2022, apesar da gigantesca estrutura custeada pelo vultoso fundo eleitoral destinado à coligação. Eleito para o Senado em 2018 com 474.449 votos, obteve apenas 82.495 votos na atual disputa pelo Governo do Estado (correspondente a 10,88% dos votos válidos), ficando em terceiro lugar.

Vale, todavia, ressaltar que se os votos obtidos por Valmir de Francisquinho não tivessem sido anulados por decisão judicial, a quantidade de votos válidos subiria de 757.938 para aproximadamente 1.200.000. Nesse caso, além de cair para a quarta posição, a proporção de votos alcançados por Alessandro Vieira teria diminuído para algo em torno de 6,87% do total.

É voz corrente que, no segundo turno das eleições para presidente e governador,  Alessandro irá optar pela neutralidade, alegando total incompatibilidade com os candidatos e seus respectivos partidos. Se isso de fato vier a ocorrer, o neotucano ficará ainda mais isolado e enfraquecido.

Por outro lado, caso resolva decidir entre Lula (PT) ou Bolsonaro (PL), na sucessão presidencial, e entre Rogério Carvalho (PT) ou Fábio Mitidieri (PSD), na disputa estadual, Alessandro terá dificuldade para encaixar um discurso que não soe puro oportunismo. Mas isso não é problema para uma mente maquiavélica, sempre focada na obtenção de alguma vantagem. Para os aliados, eleitores e simpatizantes eventualmente insatisfeitos, a porta da rua será, como de costume, a serventia da casa.

É evidente que Alessandro não chegou e provavelmente jamais chegará à sarjeta, pois, ao contrário de muitos políticos que saíram do anonimato e logo caíram em descrédito, consegue aliar elevado intelecto com um forte instinto de sobrevivência. Mas é fora de dúvida que foi ele o grande derrotado nas eleições deste ano, e não dá mostras de que poderá se refazer do baque sofrido, ainda que se valha dos truques e habilidades camaleônicas que o transformaram em arremedo de liderança local e subcelebridade nacional.

Texto de autoria de Paulo Márcio Ramos Cruz, Delegado de Polícia Civil e foi candidato a prefeito de Aracaju em 2020

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