Há frases que marcam um governo. Outras o desmascaram.
A que Lula proferiu recentemente em Jacarta, durante uma entrevista internacional, pertence à segunda categoria. Ao declarar que “os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”, o presidente da República não apenas tropeçou nas palavras — ele tropeçou na lógica, no bom senso e, sobretudo, na responsabilidade que o cargo exige.
Não foi um deslize qualquer. Foi um espelho de pensamento.
Porque o improviso, ao contrário do discurso ensaiado, tem o dom de revelar o que o marketing tenta esconder. E, nesse caso, revelou um Lula cada vez mais distante da realidade e perigosamente disposto a distorcer conceitos básicos de justiça, moral e responsabilidade.
UM DISCURSO QUE EXPÕE A MENTE DE QUEM O DIZ
Há quem tente amenizar. Há sempre os que dirão que ele “quis dizer outra coisa”, que “foi mal interpretado”, que “a ideia era discutir as causas sociais do tráfico”.
Mas não. Não há meia interpretação possível para uma frase que transforma criminosos armados, chefes de facções e assassinos confessos em “vítimas”.
Lula não falou de desigualdade social. Falou de cumplicidade moral.
E isso, vindo de um presidente, é devastador.
E pior, não foi a primeira vez!!
O que ele disse — sem perceber o tamanho do absurdo — foi que quem comanda bocas de fumo, quem mata por território, quem alicia crianças para o crime, quem infiltra poder paralelo em comunidades inteiras, é, no fundo, uma vítima.
Vítima de quem? Do usuário?
Ou, quem sabe, da sociedade?
É sempre o mesmo roteiro: o bandido é o coitado, o criminoso é o oprimido, o Estado é o opressor.
E a vítima de verdade — o trabalhador morto numa bala perdida, a mãe que enterra o filho, o jovem que cai no vício — essa, para o discurso oficial, é apenas “dano colateral”.
A EMPOLVORA NO PLANALTO: QUANDO O PRÓPRIO GOVERNO TEM VERGONHA DO QUE O PRESIDENTE DIZ
Nos bastidores de Brasília, o clima foi de pânico.
Assessores, ministros e comunicadores do Planalto correram para tentar apagar o incêndio. O PT, em polvorosa, iniciou mais uma operação de contenção de danos, tentando convencer a opinião pública de que Lula “se expressou mal”.
Mas ninguém mais se convence.
Essa já virou a desculpa oficial da gestão: toda vez que o presidente fala sem papel na mão, alguém precisa correr depois para “traduzir” o que ele realmente quis dizer. É o governo dos intérpretes — cada assessor transformado em bombeiro de reputação, cada marqueteiro em tradutor simultâneo do desastre.
A verdade é simples e incômoda: Lula fala o que pensa.
E o que pensa é perigoso.
Não é a primeira vez que o improviso desmonta o personagem fabricado pelo marketing. O ex-metalúrgico virou presidente, mas manteve o vício da retórica sindical — aquela em que toda injustiça social precisa de um vilão conveniente e de uma desculpa pronta.
Só que agora, ao relativizar o tráfico de drogas, o discurso populista cruzou uma linha moral.
QUANDO A INVERSÃO DE VALORES VIRA POLÍTICA DE GOVERNO
Transformar o criminoso em vítima é mais do que um erro de comunicação.
É uma inversão de valores — perigosa, corrosiva e ideologicamente calculada.
Porque, ao dizer que o traficante é vítima, o presidente enfraquece o senso de responsabilidade individual e envia ao país uma mensagem perversa: a culpa nunca é de quem faz o mal, mas sempre de quem o provoca.
Essa lógica do “coitadismo” é o combustível de toda a degeneração moral que vemos no debate público brasileiro. Ela absolve criminosos e culpabiliza a sociedade; distorce o papel da lei e desmoraliza as forças de segurança que arriscam a vida todos os dias no combate ao tráfico.
Enquanto o policial morre na favela, o governo tenta “compreender” o traficante.
Enquanto o país enterra suas vítimas, o presidente ensina empatia para os algozes.
Não há romantismo social que justifique esse tipo de raciocínio.
Não há sociologia que embeleze o absurdo.
RETRATAÇÃO TARDIA: O GOVERNO TENTA, MAS O DANO JÁ ESTÁ FEITO
Pressionado pela repercussão negativa, Lula correu às redes para se retratar.
Disse que “a frase foi mal colocada” e que seu governo “segue firme no combate ao crime organizado”.
Mas o pedido de desculpas soou como o que de fato foi: uma tentativa apressada de conter o estrago político.
O Brasil não precisa de um presidente que se retrata a cada semana.
Precisa de um que pense antes de falar — e que entenda que palavras têm peso, sobretudo quando vindas de quem representa a Nação.
A cada improviso, Lula desmoraliza um pouco mais a própria autoridade e expõe o país ao ridículo. Pior: desmonta o discurso de segurança pública que tenta sustentar internamente, enquanto lá fora posa de líder pacifista e humanista.
QUANDO O IMPROVISO DERRUBA E EXPÕE A REALIDADE
Lula gosta de se vender como “o homem do povo”. Mas, na prática, fala como quem vive em outro país — um onde o traficante é vítima, o criminoso é produto do meio e o Estado é o vilão.
É o velho discurso de quem se recusa a enxergar a realidade das ruas.
A verdade é que o Brasil real não suporta mais romantização de bandido.
A sociedade que acorda cedo, que paga impostos, que vive cercada pelo medo e pela violência, não quer ouvir do presidente que o traficante é vítima.
Quer ouvir que o traficante será punido, que a lei será cumprida, e que o Estado está do lado de quem trabalha, não de quem destrói vidas.
Mas talvez isso seja pedir demais de um governo que tem dificuldade em distinguir certo e errado — e que, vez ou outra, confunde empatia com conivência.
A VERDADE POR TRÁS DO LAPSO
O discurso de Lula em Jacarta não foi apenas “mal colocado”.
Foi muito bem revelador.
Revelador de uma mentalidade que relativiza o crime, que distorce o conceito de justiça e que, na ânsia de justificar o injustificável, acaba insultando as vítimas reais da violência.
A língua de Lula pode até ter escapado — mas, desta vez, escapou para dizer o que ele realmente pensa.
E talvez esse seja o maior problema do Brasil: ter um presidente que, quando fala sem script, mostra exatamente o que é.
Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.
Fonte: https://tiagohelcias.blogspot.com/2025/10/traficantes-vitimas-o-dia-em-que-lula.html

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