Aí surgiu Nayib Bukele — um cara que parecia mais um influencer do que um presidente — e prometeu fazer o que ninguém tinha coragem: enfrentar o crime com o mesmo medo que o crime impunha ao povo.
E, de algum jeito, ele fez. O país virou outro. Mas o preço foi alto.
Hoje, os números de homicídio despencaram, as maras — aquelas gangues que tocavam o terror — desapareceram das manchetes. Mas em troca, Bukele prendeu mais de 75 mil pessoas, suspendeu direitos, e construiu uma das maiores prisões do mundo.
E o povo… o povo o aplaude. Porque, no fundo, quando a violência chega no quintal, o discurso dos direitos humanos perde o fôlego.
A frase atribuída a ele — “O Brasil não combate o crime porque o crime está no poder” — pode até ser polêmica, mas é certeira. Porque aqui, meu amigo, o crime veste terno, tem mandato e vive de selfie com autoridade.
O TEATRO DO CAOS
Enquanto El Salvador discute os limites do autoritarismo, o Brasil segue no teatro da omissão.
Veja o que está acontecendo no Rio de Janeiro: o governo estadual e o governo federal estão em um bate-boca público, tentando descobrir quem é o culpado pelo caos.
De um lado, Cláudio Castro, o governador, dizendo que o Planalto abandonou o Rio. Do outro, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, lembrando que “a segurança é responsabilidade dos estados”.
Enquanto eles trocam farpas, a população troca tiros.
A guerra é real nas ruas, mas o duelo é político nos microfones.
O governador quer helicópteros e blindados.
O ministro responde com notas oficiais e promessas de “coordenação integrada”.
E no fim das contas, o que sobra?
Mais um morador morto no beco, mais um policial enterrado com honras, e mais uma coletiva de imprensa cheia de frases de efeito e nenhuma ação concreta.
ENQUANTO UM FAZ, OUTRO FALA
Bukele pode ser tudo — autoritário, controverso, provocador — mas ele fez. O resultado está aí: o país que era símbolo de violência virou vitrine de segurança.
Já o Brasil, que adora falar em “modelo exemplar e soberania”, continua sem modelo nenhum.
O que temos aqui é um Estado que finge governar, e criminosos que fingem obedecer.
Enquanto o governo federal fala em “estratégia nacional de segurança pública”, o tráfico toma conta das comunidades, as milícias controlam bairros inteiros e as fronteiras seguem abertas como porteira de fazenda.
Bukele construiu prisões; o Brasil constrói narrativas.
Ele enfrenta o crime; aqui, o crime é convidado pra reunião.
QUANDO A POLÍTICA É PARTE DO PROBLEMA
Já são quase três décadas que cubro política e segurança, e posso dizer: nunca vi tanta covardia institucional.
Hoje, o medo de “parecer autoritário” virou desculpa pra não agir.
As autoridades estão mais preocupadas com o que vão dizer no Twitter do que com o que está acontecendo nas ruas.
O problema é que o crime aprendeu a jogar o jogo da política. E joga melhor.
Financia campanhas, infiltra-se nas estruturas, manda e desmanda.
O Estado brasileiro está em guerra, mas parece não ter percebido.
E quando percebe, prefere criar uma “força-tarefa” — que é o nome moderno para empurrar com a barriga.
O PREÇO DA ORDEM
Bukele impôs a ordem. À força, é verdade.
Mas em El Salvador, hoje, uma mãe pode sair de casa à noite sem medo de não voltar.
E isso, pra quem viveu anos sob o terror, vale mais que qualquer discurso acadêmico sobre democracia.
No Brasil, a gente continua escolhendo entre dois infernos: o da violência e o da hipocrisia.
Aqui, quando morre um bandido, a política debate direitos humanos.
Quando morre um inocente, o governo promete reunião.
A pergunta que fica é simples — e incômoda: até quando vamos aceitar a violência como parte da paisagem?
ENTRE A ESPERANÇA E A COVARDIA
O que Bukele mostrou — goste-se dele ou não — é que quando o Estado quer, ele pode.
O problema é que, no Brasil, o Estado não quer.
Porque aqui o crime não está apenas nas ruas. Está nos gabinetes, nos contratos, nos bastidores.
E ninguém quer prender quem assina o contracheque do sistema.
Bukele prendeu o crime.
Nós, por enquanto, só o elegemos.
Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.
Fonte: blog do Tiago Helcias - https://tiagohelcias.blogspot.com/2025/11/bukele-enfrenta-o-crime-o-brasil.html

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