sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

QG DA PMERJ SERÁ VENDIDO.

No momento em que se discute os problemas existentes nas polícias brasileiras, inclusive a respeito da legislação e cultura militar a que estão submetidas as corporações policiais militares, o governo do estado do Rio de Janeiro anunciou uma medida que, pelo menos simbolicamente, representa muito bem certa ambivalência vivida PM’s brasileiras: a venda do Quartel General da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, um prédio bicentenário, que tradicionalmente abriga o comando da corporação:

Assim que chegou ao Sambódromo, por volta das 23h, o governador Sergio Cabral anunciou que o Quartel General da PM vai ser transferido da Evaristo da Veiga para onde hoje funciona o Batalhão de Choque, na rua Salvador de Sá.

“Vamos vender o Quartel General por um bom preço para a Petrobras, transferindo as atividades que funcionam por lá para o Batalhão de Choque. A ideia é acabar com o conceito de aquartelamento na corporação”, explicou o governador.


O curioso é que não faz muitos dias que o próprio governo carioca vem exaltando as características da cultura organizacional militar, para negativar a realização da greve pelos policiais militares, e justificar as prisões dos manifestantes. Ou seja, de um lado se defende a extinção do espírito de aquartelamento, alegando a necessidade de tornar a corporação policial militar mais eficiente e integrada às demandas sociais, por outro, se exalta o mais controverso dos elementos do militarismo, aquele que priva os policiais de reivindicações legítimas visando melhorias em suas corporações.

No final das contas, parece que os governos querem uma polícia cheia de retalhos, uma espécie de Frankenstein, em que o critério para julgar a intensidade do militarismo é a conveniência para que a corporação esteja de acordo com os objetivos político-eleitorais dos governantes.

Ou se louva a tradição da corporação, com suas estruturas e práticas seculares (inclusive as proibições disciplinares), ou se modifica e transforma, em busca de uma adequação às exigências da atual sociedade. É impossível explicar certas medidas sem a manutenção de outras – retirar certos lastros simbólicos tornam ainda mais inócuas as defesas à disciplina militar praticada nas PM’s. O risco é formar organizações policiais cada vez mais alinhadas aos interesses dos governos, o que é diferente de se alinhar aos interesses da sociedade democrática. Muito diferente, às vezes.

Fonte: Abordagem Policial (Danillo Ferreira)

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