terça-feira, 13 de setembro de 2016

MAJOR APREENDE CELULAR DE SOLDADO E TENSÃO AUMENTA NA PM.


Aumenta a tensão dentro da Polícia Militar e na relação entre a tropa e o governo estadual. Ontem, no fim da manhã, dezenas de militares ligados ao 'Movimento Polícia Legal'protestaram em frente ao Quartel do Comando Geral (QCG), no centro da capital. O motivo foi um episódio envolvendo dois oficiais da Seção de Logística da instituição (PM-4) e 13 soldados do Batalhão de Polícia de Radiopatrulha (BPRp), que tinham ido ao quartel para cobrar a entrega de uniformes novos, que está atrasada. Um dos soldados, de prenome Ângelo, teve o seu celular apreendido pelo major Fernando Ferreira Júnior, chefe do Centro de Suprimento e Manutenção (CSM), que o acusou de gravar, sem permissão, a conversa entre os praças e o tenente-coronel Edênisson Paixão, chefe do PM-4. 

O incidente começou por volta das 10h e revoltou os praças, os quais afirmavam que o major Ferreira teria dado voz de prisão ao soldado, assim que percebeu que estava sendo filmado. Imediatamente, os outros soldados avisaram do fato aos colegas e a advogados ligados às entidades militares. "Ângelo tá dentro da sala do comando, tomaram o celular dele, botaram o dedo na cara dele e o chamaram de covarde pq ele [sic] estava gravando. O cel [coronel] mandou chamar a corregedoria", dizia uma das mensagens que circularam nas redes sociais. Rapidamente, uma equipe da Corregedoria da PM chegou ao quartel, ao mesmo tempo em que chegavam os advogados, jornalistas e outros militares, que passaram a protestar cantando o hino da PM e gritando as palavras 'justiça', 'respeito' e 'dignidade'. 

Os praças e oficiais envolvidos na confusão permaneceram no quartel até por volta das 16h30, prestando depoimentos à Corregedoria, que decidiu abrir um inquérito administrativo para apurar a conduta do soldado Ângelo e dos outros praças envolvidos no episódio. "Foi instaurado um procedimento de apuração disciplinar, já que há um comportamento reprovável, no mínimo antiético, desse policial, que inclusive, ele faltou com a verdade [ao negar a gravação]. Por que ele estaria gravando essa conversa de forma escusa, clandestina? Há indícios de que essa ação possa ter sido orquestrada por alguém. Por isso, a necessidade de se apurar esse fato", justificou o porta-voz da PM, coronel Paulo César Paiva.

O oficial também negou ter havido qualquer voz de prisão contra o soldado Ângelo ou contra os outros militares do BPRp. "Ninguém foi preso e nem detido aqui nesta manhã, porque nem houve necessidade de prisão. O que houve foi tão somente a apreensão deste telefone. Todas providências adotadas foram documentadas e tiveram a presença do advogado do policial, recebemos uma representação da OAB e todos puderam acompanhar pessoalmente essas providências, para deixar transparecer que nós estamos dentro da legalidade dos fatos", disse Paiva, ao referir-se à presença no quartel de membros da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SE).

Outra versão - As informações do porta-voz são contrariadas pelo advogado Márlio Damasceno, assessor jurídico da Associação dos Militares de Sergipe (Amese). Ao reafirmar que o soldado Ângelo foi presoem flagrante enquanto teve o seu celular recolhido, ele acusou o Comando de mudar a versão dos fatos. "Eles já disseram que não é mais prisão e nem detenção, já mudaram depois que a imprensa veio cobrir [o episódio]. Mas nós temos diversos policiais que vão testemunhar que disseram que foi dada a voz de prisão. Querem agora omitir isso", disse Márlio, confirmando que vai "tomar providências para garantir o direito do praça". 

Ele argumentou ainda que o militar da Radiopatrulha não cometeu crime ou transgressão ao gravar a conversa dos colegas com os oficiais, nos quais eles questionavam o motivo da não entrega dos uniformes. "Os policiais têm direito a três uniformes por ano e só estavam com um só uniforme. Infelizmente, como geralmente a Polícia Militar não dá aquela resposta por escrito, o militar achou por bem gravar. Não é crime você gravar a sua própria conversa, mas pegaram isso nele como um crime. É triste que um policial militar seja preso por exercer o seu direito", criticou Márlio, acreditando que o episódio pode aumentar mais o desgaste entre os militares e o governo estadual. "O governo diz que está ao lado da tropa. Agora, se isso é estar ao lado da tropa... fica a critério dele. Agora, nós vamos tomar as nossas medidas cabíveis", disse o assessor. 

A respeito da concessão dos novos uniformes, o Comando da PM admitiu o atraso na entrega e atribuiu-os aos problemas financeiros que afetam o governo do Estado e diminuíram até mesmo a dotação orçamentária da PM, que enfrenta dificuldades para o pagamento de fornecedores. O coronel Paiva indicou que os uniformes antigos serão cobrados dos policiais pelo Comando, até que o fornecimento dos novos seja resolvido.

Fonte:  Jornal do Dia (Gabriel Damásio)

Nenhum comentário:

Postar um comentário