domingo, 20 de janeiro de 2019

SE EU FOSSE CIDADÃO COMUM, NÃO DEIXARIA A ARMA NO COFRE, DIZ MAJOR OLÍMPIO.


Senador mais votado por São Paulo em 2018, Major Olímpio é o presidente regional do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro. Policial militar aposentado e eleito deputado federal em 2014, o parlamentar afirma que conseguiu a vaga no Senado Federal por estar em um projeto com o novo presidente. "As pessoas acabaram me elegendo em função da identificação com o Jair Bolsonaro", afirmou em entrevista exclusiva ao UOL na sede paulista do partido, na zona norte da capital. 

Olímpio considerou o decreto que flexibiliza a posse de arma de fogo para a população, assinado por Bolsonaro na última terça-feira (15), como "um avanço". No entanto, segundo ele, o ideal seria que o decreto alterasse as condições para a importação de armas e munições, que houvesse um recadastramento das armas existentes do país e que não houvesse o artigo que determina que, para a posse, o cidadão deve ter um cofre ou local com trava de segurança. Segundo ele, se ele fosse um cidadão civil, com posse, não respeitaria essa determinação. 

"Achei essa questão do cofre absolutamente inútil na legislação. Cofre ou compartimento com tranca. Primeiro lugar, você põe na lei uma coisa que objetivamente tem uma razão de ser. Quem vai fiscalizar isso? Ninguém. E você já tem no artigo 13 do Estatuto do Desarmamento o crime chamado omissão de cautela: aquele que deixar a arma acessível para criança ou adolescente ou alguém com qualquer espécie de deficiência mental, está sujeito a uma condenação de um a três anos. Achei de uma grande inutilidade. O ideal seria não ter esse artigo", afirmou à reportagem em entrevista realizada na sexta (18).

Se eu fosse um cidadão comum, eu não deixaria num cofre. Eu [atualmente] deixo onde ela não esteja acessível. Hoje, eu não tenho crianças em casa, mas quando eu tinha, ela ficava onde eu teria condição de manusear. Hoje, ela está do meu lado, na minha cama, comigo dormindo. No banheiro, por razões óbvias, enquanto estou tomando banho, ela não está comigo, mas está em condições que eu possa acessá-la para defender minha família. Necessariamente, ando armado. O tempo todo. Arma e plano de saúde você tem que ter, mas é melhor não usar

Olímpio afirmou ter apoiado o decreto e entendido que o governo planeja "mexer no regulamento do estatuto de maneira escalonada". Ele afirmou considerar um avanço importante a assinatura do decreto e disse avaliar como positivo o "direito do cidadão de bem se defender e defender sua família".

"Se eu precisar dar tiro em marginal, vai acontecer. Já precisei. Algumas vezes. Ocorrências mais do que naturais na vida policial. E não sei o número de vezes que tive que sacar a arma, que protegi a vítima e desestimulei criminosos. Já tive ocorrências com reféns, em que fiz o gerenciamento de crise por quatro horas, cara a cara, com criminosos assaltando uma agência dentro da Secretaria da Fazenda."

"Um dos marginais chegou a passar a pistola na minha cabeça e falava para o outro: você já viu a cabeça de um gambé [termo utilizado por criminosos para falar sobre policial] tão perto para estourar? Se eu pudesse, tinha matado os dois. Mas tinha uma responsabilidade muito maior, que era defender a vida das pessoas. E até a minha. Sou muito prático com relação a isso: não estimulo a violência, mas entendo que o estado e o policial têm que dar demonstração de força, não de violência. Igual ou maior que a do bandido. Se não, o bandido não respeita", afirmou.

PSDB é tão perigoso para o policial quanto PCC, diz Olímpio

O senador eleito ficou marcado pelas críticas ao governo de São Paulo, quando tinha Geraldo Alckmin (PSDB) à frente do Executivo. Durante a campanha eleitoral de 2018, se manteve contra os tucanos até o fim do segundo turno.

Olímpio chegou a apoiar publicamente a candidatura do então governador Márcio França (PSB) porque do outro lado estava um tucano: Doria. O apoio a França impulsionou, inclusive, o atrito com a deputada federal eleita pelo seu próprio partido, Joice Hasselmann. Ela se manteve ao lado de Doria durante todo o segundo turno e chegou a convidá-lo para o partido de Bolsonaro.

O João Doria tem uma posição consolidada no PSDB, em que ele acabou sendo a maior liderança do partido no Brasil e dominando o partido. Então, não vejo a possibilidade de ele migrar de partido. Isso não aconteceria.

"Institucionalmente, temos que conviver bem. Não dá para dizer que estou defendendo o estado sem perguntar a ele, governador, as necessidades do estado. Vivemos em harmonia. Fui dizer para ele que o partido estará neutro na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e que vai discutir todos os projetos de forma neutra. Sem toma lá, dá cá, sem secretaria, sem nada", complementou.

Para Olímpio, o governo do PSDB "maltratou policiais paulistas por 24 anos". "Foram os piores inimigos da polícia de São Paulo. Então, se for para fazer uma avaliação: o que é mais perigoso para o policial: o PSDB ou o PCC (Primeiro Comando da Capital)? O PSDB foi matando aos poucos. Vai matando aos poucos na política salarial, na falta de atenção. O PCC mata na hora, assim que consegue. Espero que [com João Doria] mude isso. Eu só posso torcer. Na segurança pública, a gente nunca torce para o jacaré no filme do Tarzan. Não dá para fazer política partidária numa questão tão séria que envolve vida e morte, numa área tão séria como a segurança pública. Eu torço para dar muito certo. Essa é uma expectativa", afirmou o policial aposentado.

Segundo Olímpio, os governantes das esferas estadual e federal, que estiveram no poder nos últimos 25 anos (desde que o PCC passou a existir), têm parcela de culpa na expansão da facção criminosa. Segundo investigação do MP (Ministério Público) paulista, o PCC está em quase todo o país, de forma mais violenta, e é o principal grupo criminoso na exportação de cocaína para o exterior. "Houve omissão generalizada de todos os poderes constituídos. Mas não tenho a menor dúvida de que é possível controlar o PCC. Basta o governo assumir o seu papel em todos os níveis. Precisamos de legislação mais dura para lideranças criminosas", defende.

De acordo com o senador eleito, um enfrentamento ao crime organizado de São Paulo não deve trazer uma nova onda de ataques, nos moldes de maio de 2006, quando mais de 500 pessoas morreram em atos violentos em menos de um mês. No início deste ano, o Ceará determinou uma série de ações contra as facções locais e convive, até este 18º dia do ano, com ataques violentos e presença de homens da Força Nacional de Segurança.

"Em 2006, eu estava na ativa. O estado se escondeu naquele momento. O crime dominou por 12 dias. Sabemos o tamanho do terror. Já se tinha informações que poderiam ter ataques naquela sexta-feira fatídica que teve início. Não avisaram os policiais. Saíram milhares de policiais de serviço pegando transporte público, pegando carona na estrada. Alguns foram mortos por covardia e omissão das autoridades constituídas. A polícia paulista está calejada sobre isso". 

Fonte:  www.paraiba.com.br/uol.com.br

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